SERVIÇO DE ENDOSCOPIA PERORAL DO
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PLÍNIO
DE MATTOS BARRETTO
SHINICHI
ISHIOKA
ORIGEM DO
SERVIÇO
A idéia original para organização deste serviço surgiu em 1934 quando
um grupo de ilustres otorrinolaringologistas, reunidos no departamento
de ORL da Associação Paulista de Medicina, achou que já era tempo
de organizar-se numa das clínicas de S. Paulo uma seção exclusiva
para prática da “Moderna Broncoesofagologia” . Ele acabaram de
ouvir a palestra do Dr. José Freire de Mattos Barreto, assistente da
Faculdade de Medicina de São Paulo, relatando a magnífica impressão
que tivera ao visitar as clínicas do Prof. Chevalier Jackson em Filadélfia,
onde os melhores resultados eram obtidos por equipes especializadas,
tendo se referido também ao empenho do Professor para ampliar a divulgação
da sua especialidade na América do Sul. Aqueles que o ouviram prometeram
dar todo apoio a quem se dispusesse ir estudar a nova especialidade.
Quem logo se decidiu foi o irmão mais moço do conferencista, o Plínio,
que recém-formado pela Faculdade de Medicina da USP, já freqüentava
a cínica do Prof. Paula Santos. Aceito como estagiário do hospital
da “Temple University”, em menos de um ano já trabalhava como assistente
da famosa organização e era tido como “um broncoscopista de muita
habilidade e um dos membros mais úteis da nossa clínica”.
Apesar desta apreciação do seu mestre, não quis permanecer em Filadélfia
e tão logo julgaram-no preparado para mostrar um serviço em São Paulo,
seguiu para a Europa para ampliar seus conhecimentos em otorrinolaringologia
e cirurgia de cabeça e pescoço. Visitou durante quase dois anos os
melhores centros universitários de Roma, Viena, Berlim, Kiel, Paris
e Londres e ainda voltou aos Estados Unidos para completar a aquisição
do material indispensável para iniciar suas atividades profissionais.
Reassumiu suas funções de assistente extra-numerário da 26
a . cadeira da Faculdade e começou a trabalhar nas modestas instalações
que ela dispunha no Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho, embora convencido
de que naquele ambiente pouco poderia fazer. Mesmo assim em 1938, Plínio
Barreto foi nomeado assistente efetivo, com a liberdade de trabalhar
somente para o progresso da laringologia, da broncoesofagologia e da
cirurgia de cabeça e pescoço.
No mesmo ano os Drs. Schmidt Sarmento e Mário Ottoni de Rezende que
dirigiam a Clínica ORL da Santa Casa, o convidaram para montar no Pavilhão
Conde Lara, onde estavam sendo instaladas as clínicas especializadas
daquela instituição um AMBULATÓRIO DE ENDOSCOPIA PERORAL, o primeiro
que funcionou em São Paulo com inteira independência científica e
autonomia para atender pacientes da Faculdade bem como os da Santa Casa.
O Dr. Mário Ottoni o convidou também para integrar o grupo de especialistas
que, sob a liderança do Prof. Bernardes de Oliveira estava construindo
o Sanatório Esperança, que por muitos anos foi o melhor Hospital do
Brasil para atendimento de clínica particular.
A Endoscopia granjeava fama em São Paulo e começava a atrair a atenção
de médicos nacionais e das repúblicas vizinhas que repetiam suas visitas
aos serviços de endoscopia. Das intensas atividades neles desenvolvidas
resultam dois fatos da maior importância: primeiro, o convite para
o Barretto fosse apresentar como um dos temas oficiais do II Congresso
Sul Americano de ORL (Montevidéo 1944) sua experiência em Broncoesofagologia.
No encerramento deste congresso foi aprovada moção para que todas
as universidades sul americanas organizassem serviços especializados
nos moldes dos que já estavam funcionando em São Paulo. Em segundo
lugar, o convite do Prof. Benedito Montenegro, diretor da Faculdade
de Medicina, para quem os dirigia ir desenvolver seus planos de trabalho
no Hospital das Clínicas (H.C.), e convite também para acompanhar
as instalações das diferentes clínicas e serviços do hospital que
estava em fase final de construção.
Assim foi que, desde 1938, o jovem especialista começou a trabalhar
ao lado de Odair Pedroso no escritório técnico da Faculdade sob orientação
do Prof. Rezende Puech, e conseguiu que fossem aprovadas as plantas
feitas com o maior desvelo para a clínica de ORL e para um ambulatório
de Endoscopia Peroral.
Mas em 21 de outubro de 1943, por medidas de economia e facilidades
administrativas, foi criada apenas uma Seção de Endoscopia, como unidade
da Divisão de Serviços Médicos Auxiliares, anexada à catedra de
ORL (26a. cadeira). Esta unidade contava com um ambulatório instalado
nas salas 9004 a 9007 do centro cirúrgico e com leitos de internação
na Clínica do Prof. Paula Santos, que pretendia que os médicos que
lhe eram agregados continuassem a freqüentar, pelo menos durante um
ano, a Seção de Endoscopia, como já faziam no Ambulatório instalado
no Pavilhão Conde Lara.
INAUGURAÇÃO
DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS
A inauguração do Hospital das Clínicas ocorreu em 19 de abril de
1944 e, na mesma data foi inaugurado o Serviço de Pronto Socorro, sendo
que o segundo paciente nele atendido fora vítima de grave acidente
de corpo estranho: fragmento de osso perfurado o esôfago torácico
(caso tratado e curado pelos endoscopistas ).
O funcionamento do hospital estava sendo retardado porque em plena II
Guerra Mundial não tinha sido possível importar o material cirúrgico
indispensável. Barretto, que, para cumprir dever profissional tinha
que viajar aos Estados Unidos, ofereceu-se ao Prof. Benedito Montenegro
para ajuda-lo naquela importação. O Professor escreveu umas poucas
linhas que foram entregues num envelope assim simplesmente endereçado:
“General Mac Clark, chefe do Serviço de Saúde das Forças Armadas
Americanas”. Poucos dias depois a mensagem estava sendo entregue pessoalmente
ao general, que a recebeu com muita satisfação e após algumas perguntas
sobre o seu amigo e sobre o Hospital das Clínicas, pediu a lista
do material que precisávamos e concedeu prioridade A para toda
ela. Depois, sempre sorridente perguntou: “como pretendem fazer o
transporte ?”. A resposta creio que inesperada e a ninguém encomendada
foi: “não poderia ser num daqueles muitos bombardeiros que vivem
cruzando os céus de São Paulo?”
Certamente não foi só o Ambulatório de Endoscopia que se beneficiou com
a mensagem do Prof. Montenegro.
DO INSTITUTO
ARNALDO VIEIRA DE CARVALHO
PARA O HOSPITAL DAS CLÍNICAS
Sem poder mencionar com segurança a data da transferência do
Prof. Paula Santos para H.C., sabemos que ela coincidiu com aquela em
que Barretto assumiu o compromisso de adaptar nos espaços que ficaram
vagos, um Serviço de Cabeça e Pescoço para atender casos de
neoplasias, mais de acordo com precípuas finalidades originais do Instituto
. Dirigiu por vários anos este serviço; fez parte da diretoria; modificou
os estatutos e depois passou seus encargos ao Dr. Antônio Carlos da
Costa Bueno que com ele trabalhava no Hospital das Clínicas. Em 1968,
recebeu o título de Diretor Emérito do Instituto, onde ele e seus
colaboradores atenderam grande número de casos de câncer da laringe,
tendo desenvolvido muitos detalhes de técnica operatória que foram
seguidos também no exterior e, durante algum tempo, chegaram a acumular
a maior e a melhor casuística nacional. Só não conseguiu foi passar
para a Faculdade todo o acervo deste Instituto que foi o último dos
projetos de Arnaldo Vieira de Carvalho.
ATIVIDADE
ASSISTENCIAL E DE ENSINO
Em 1947, o número de atendimentos prestados pelos endoscopistas, já
ultrapassava os 8.000, embora tivessem sido praticados por alguns poucos
estagiários voluntários e pelo chefe do Serviço, que naquele ano
ainda teve que ir a Buenos Aires, dar um curso de aperfeiçoamento para
médicos brasileiros pediram que cursos como aquele fossem repetidos
em São Paulo.
Eles começaram quando Barretto fora eleito presidente da seção de
ORL da APM e, na reunião de encerramento do último deles, quem os
organizara referiu-se a entendimentos havidos com colegas do Rio de
Janeiro e a sua disposição para fundar uma sociedade que continuasse
a reunir os interessados em fomentar o progresso, o aperfeiçoamento
e a difusão dos conhecimentos sobre vias aéreas e digestivas superiores.
Esta sociedade é que deveria encorajar o aprimoramento profissional de seus membros,
estabelecendo normas de treinamento pós-graduado em broncoesofagologia
e condições mínimas para a qualificação dos candidatos ao título
de especialista.
Os cursos interessavam a otorrinos, anestesistas, pneumologistas e cirurgiões
de cabeça e pescoço, mas até 1952 tais cursos foram dados sob
o patrocínio da Associação Paulista de Medicina (APM) para contornar
dificuldades com os programas de ensino da Faculdade.
Antes da divulgação deste projeto os endoscopistas do H.C. já
estavam convencidos de que, enquanto o Serviço de Endoscopia permanecesse
Anexado à cátedrade ORL, seriam nulas suas esperanças de carreira
universitária na Faculdade de medicina da USP. O catedrático não
se interessava pelo ensino de pós-graduação que,aliás, só foi organizado
no período de 1978 à 1982, durante a presid6encia do Prof. Mário
Ramos de Oliveira no Conselho Técnico Administrativo do H.C.
E o fato indiscutível foi diminuindo até tornar-se em franca
oposição de alguns. A estes não interessava a não ser a endoscopia
peroral estritamente necessária para resolver os problemas da sua especialidade
e não a crescente atividade dos endoscopistas em gastroenterologia,
pneumologia e na Clínica de moléstias Infectuosas. Por outro lado,
eramas atividades da unidade dos Serviços Médicos Auxiliares, servindo
as diferenças clínicas, o que garantia aos endoscopistas maior apoio
do Conselho Técnico Administrativo.
A PASSAGEM
PARA O DEPARTAMENTO DE CIRURGIA
Em 1950, as dificuldades atingiram o clímax porque neste ano criaram-se
alguns cargos de professor adjunto e a chefia do Serviço de Endoscopia
viu-se estimulada, pelo Prof. Renato Locchi, diretor da Faculdade, a
prestar concurso para docência livre, título considerado indispensável
para poder organizar e dirigir uma nova disciplina. Ouvido o Prof. Paula
Santos, este mostrou-se radicalmente contrário a organização da disciplina
que poderia abranger a laringologia e a broncoesofagologia. Da mesma
opinião era o livre-docente que já se preparada para substituí-lo
e que realmente ocupou a cátedra em 1955. A oposição continuou até
1965, quando o novo professor concorreu com o seu voto para à
aprovação unânime da Congregação dos Professores, para ser criada
a disciplina de Endoscopia Perora.
Foi um período de 15 anos bastante difícil para os endoscopistas que
recorreram ao Prof. Benedito Montenegro que os convidou para o Departamento
de Cirurgia ainda em fase de organização, mas que já os receberia
para formar a sétima disciplina, dentre as oito que o comporiam:
1. Gastroenterologia | 5. Cirurgia Plástica e Queimaduras |
2. Glândulas Endócrinas e Baço | 6. Neurologia |
3. Cirurgia Torácica | 7. Endoscopia Peroral |
4. Moléstias Vasculares | 8. Anestesia |
  Periféricas e Simpático |   |
Os endoscopistas não vacilaram em aceitar o convite e aos poucos foram
sendo tomadas as medidas para que eles se desligassem da ORL. Plínio
Barretto foi posto à disposição da Diretoria da Faculdade e
nomeado diretor de serviço com as mesmas vantagens de assistente efetivo
da Faculdade.
O prof. Jayme Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, presidente
do Conselho Técnico Administrativo (do qual o Prof. Benedito Montenegro
ainda fazia parte), conseguiu uma série de providências para
que “aquele pessoal altamente especializado tivesse incentivos para
os seus trabalhos, passando a fazer carreira universitária, com garantia
de estabilidade e continuidade. “Ele também reconhecia as vantagens
da criação de disciplinas, como já haviam sido organizadas em outras
escolas médicas do Estado, e aplaudia a idéia de serem aproveitados
os Serviços Médicos Auxiliares que “além de atenderem as necessidades
do Hospital, são de maior interesse para o ensino médico”.
Com as medidas tomadas, o Diretor do Serviço de Endoscopia pode realizar
concurso para escolha de novos auxiliares, reorganizar o serviço e,
em 1960, apresentar um plano mais avançado, que permitiria transformar
o Serviço num CENTRO ÚNICO DE ENDOSCOPIA PERORAL, onde poderiam ser
treinados e trabalhar elementos de diferentes especialidades. Este centro
multidisciplinar poderia ser organizado com enormes vantagens administrativas
para o Hospital das Clínicas e muito facilitar o ensino pós-graduado.
Mas com afastamento compulsório do Prof. Benedito Montenegro a chefia
da 3a. Clínica Cirúrgica passou para o Prof. Eurico da Silva Bastos
que fez nova distribuição do seu pessoal:
1 Cirurgia Pediátrica com Virgílio Carvalho Pinto |
2 Cirurgia de Cabeça e Pescoço com Anísio Costa Toledo |
3 Cirurgia do Aparelho Digestivo, dividida em dois setores, com Mário Ramos de Oliveira e Fábio Schmidt Goffi. |
Tantas e tão sérias foram as “conjunturas universitárias” para
a organização do Departamento de Cirurgia, que os seguidores do Prof.
Benedito Montenegro não conseguiam cumprir o que ele havia prometido:
a disciplina de endoscopia e os leitos de internação, que deveriam
ser reservados para os endoscopistas. Estes não podiam suportar
as dificuldades e os inconvenientes de Ter que atender cerca de 70 pacientes
internados em diferentes enfermarias do Hospital. Esta situação foi
denunciada ao Prof. Eurico da Silva Bastos que, em 1960, fez a primeira
tentativa para a aprovação da disciplina. O projeto não foi aprovado,
embora tenha havido uma única manifestação contrária a ele na Congregação
da Faculdade.
Barretto ficou com a impressão de que era preciso divulgar ainda mais
o valor da broncoesofagologia e tudo o que os endoscopistas do Hospital
já tinham feito para conseguir manter o renome do Serviço. Continuou
a organizar cursos de aperfeiçoamento tais como os que foram dados
sob o patrocínio da Associação Médica Argentina e da Associação
Paulista de Medicina e a colaborar em cursos organizados em outras instituições
: Faculdade de medicina do Uruguai, Faculdade de Medicina de Paris (1948),
Escola de Medicina do Rio Grande do Sul, na Escola de Ciências Médicas
de São Paulo e na Faculdade de medicina de Sorocaba. Ele e seus colaboradores
participaram de praticamente todas as reuniões promovidas por centros
de estudos, mesas-redondas, simpósios, congressos nacionais e estrangeiros,
sempre que se lhe ofereciam oportunidades para discutirem tema eferentes
à laringologia, broncoesofagologia e cirurgia de cabeça e pescoço.
Além disso, passaram a trabalhar junto ao Departamento Científico
da Associação Médica Brasileira (AMB) até conseguirem que fosse
a Endoscopia Peroral considerada como uma das especialidades bem definidas,
assim reconhecidas por aquela instituição. Em 1960, a AMB firmou convênio
com a Sociedade Brasileira de Broncoesofagologia (SBB), pelo qual esta
sociedade passou a representar o seu Departamento de endoscopia, para
cuidar da organização de Congressos, Cursos e Concursos para obtenção
de títulos de especialistas. Mais tarde, a AMB reconheceu quais Endoscopia
Peroral a afinidade com a Otorrinolaringologia, a Pneumologia, a Gastroenterologia
e a Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
Nesta ocasião, o nome da Sociedade Brasileira de Broncoesofagologia
foi mudado, por sugestão do Prof. Jairo Ramos, Para o de Sociedade
Brasileira de Endoscopia Peroral (SBEP) para evitar futuras dificuldades
com outras especialidade, e foi com nome de ENDOSCOPIA PERORAL
que a nova especialidade, em 1973, foi reconhecida pelo Conselho Federal
de Medicina.
Os pioneiros do H.C. sentiam que aquele esforço inicial de colaboração
para garantir o bom funcionamento do hospital estava sendo ultrapassado
por interesses pessoais e nos outros hospitais do nosso Estado só lentamente
foi se desenvolvendo o estímulo de boa competição para prestação
de melhor atendimento à população. Muitos eram os que achavam que
deviam enviar seus pacientes para o novo hospital escola, onde o ensino
de pós-graduação ainda estava tão atrasado.
As “ portas largas e sempre abertas” do Pronto- Socorro eram
responsabilizadas pela sempre crescente dificuldade com leitos de internação
em todo o hospital.
APROVAÇÃO
DA DISCIPLINA DE ENDOSCOPIA PERORAL
Os endoscopistas continuam a trabalhar em regime de estafa e cada vez
mais afastados da carreira universitária. Denunciada esta situação
ao Prof. João Alves Meira, titular da Cátedra de Moléstias Infectuosas,
e na ocasião Diretor da Faculdade, ele julgando justas as reivindicações
que lhe foram feitas soube encaminhar novamente o pedido de criação
da disciplina de ENDOSCOPIA PERORAL. Este pedido, no dia 2 de março
de 1963, foi unanimemente aprovado pela Congregação dos Professores
da faculdade, determinado que ficasse anexada ao Departamento de Cirurgia.
Depois da aprovação da disciplina, o Departamento de Cirurgia encaminhou
à Superintendência o problema dos leitos de internação para
os pacientes confinados aos endoscopistas. Mostraram-se insuficientes
e fracassaram todos os projetos por ela experimentados, inclusive aquele
de organizar uma enfermaria na Casa dos Convalescentes, em Suzano, distante
a mais de 45 quilômetros do H.C. e de outra seção no Pronto Socorro.
Também não chegou a funcionar o projeto que foi apresentado à Comissão
de Planejamento que estudava as possibilidades de aproveitamento de
espaço no H.C. para a reforma do seu centro cirúrgico.
O primeiro ambulatório de endoscopia foi mudado provisoriamente para
o espaço ocupado pelas salas de cirurgias sépticas, sob protesto dos
endoscopistas que só ganharam um pouco mais de espaço onde instalaram
alguns leitos de repouso e continuaram a espera da aprovação do projeto
alternativo que devia ocupar área de 404 metros quadrados na ala C
do 4º andar e onde seriam instalados o novo ambulatório e as enfermeiras
especializadas incorporando 25 leitos de internação. Se projeto aprovado
pela Comissão de Planejamento e pelo Governo do Estado como prioridade
3 acabou sendo ocupado por uma disciplina do departamento de Clínica
Médica.
Então o Conselho de Administração, na ocasião presidio pelo prof.
João Aguiar Pupo, solicitou à Comissão de Planejamento o estudo de
adapta;cão de uma enfermeira de emergência para o Serviço de Endoscopia,
sem Prejuízo dos estudos de readaptação definitiva ao Serviço em
vista do projeto de modificação do Centro Cirúrgico.
A enfermeira de emergência não pode ser organizada e como nenhuma
outra medida tivesse sido tomada, depois de mais de três anos de espera,
o diretor do Serviço, em 2 de maio de 1968, solicitou sua aposentadoria
na Faculdade de Medicina da USP, visto que seu trabalho sem leitos
de internação tornara-se impossível.
Depois de pouco mais de um mês, voltou ao H.C. para atender pedidos
dos seus ex-assistentes afim de terminar as pesquisas interrompidas
de cirurgia reconstrutiva para a reabilitação de alguns pacientes
já matriculados no Serviço e que ficaram aguardando solução para
seus graves problemas de deglutição e de respiração.
Voltou a trabalhar no H.C, com um contrato CLT com duração de dois
anos, tempo este que lhe pareceu suficiente para acertar sua posição
no Departamento de Cirurgia. Distribuiu alguns temas a serem aproveitados
para tese de doutorado, e ele mesmo chegou a se inscrever para concurso
de docência livre. Porém, cancelou esta inscrição quando se convenceu
da falta de apoio para dirigir como pretendia a disciplina de endoscopia.
Mesmo assim, não interrompeu a série de cursos anuais de iniciação
e de aperfeiçoamento que recomeçara a dar depois de 1957, quando o
Serviço ficara sob orientação científica do Departamento de Cirurgia.
A DISCIPLINA
DE ENDOSCOPIA NA 1a. C.C.
Uma série de reuniões na Superintendência do Hospital realizadas
com a presença do diretor dos Serviços Médicos Auxiliares e com o
intuito de encontrar solução para a situação do Serviço de
Endoscopia que novamente se tornara insustentável, só foi interrompida
em janeiro quando a uma delas compareceu o Prof. Zerbini, afirmando
como chefe da 1a. Clínica Cirúrgica que de bom grado receberia a Disciplina
de Endoscopia com todos os seus encargos.
E de fato nos programas da 1a. C.C. para o ano de 1970 constou a Disciplina
de Endoscopia com todos os seus integrantes e os programas dos cursos
de graduação e pós-graduação.
Plínio de Mattos Barretto recebeu a indicação de diretor da Disciplina
de Endoscopia no Departamento de Cirurgia somente em 22 de maio de 1970.
Mas pouco pode ser feito com os 6 leitos (4 na 1a. C.C. e 2 na 3
a. C.C.) além dos leitos de repouso e leitos do P.S., porque enquanto
se procurava reestruturar o seu Serviço de Endoscopia foi avisado pelo
Conselho Técnico Administrativo que o seu contrato CLT não seria renovado
porque “normas adotadas já há algum tempo impediam a recondução
dos servidores aposentados para facilitar a renovação dos quadros”.
E assim terminou em 10 de setembro de 1970 a carreira universitária
na Faculdade de Medicina da USP, para quem durante tantos anos havia
a ela dedicado o melhor dos seus esforços.
25 ANOS DE
ATIVIDADE DO SERVIÇO DE ENDOSCOPIA
PERORAL DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS
Durante 25 anos de funcionamento ininterruptos foram feitos mais de
337.395 atendimentos e nos seus arquivos estavam acumulados 35.637 prontuários;
incluindo os prestadores na seção que foi organizada na Clínica de
Ortopedia e Traumatologia para atender aos casos de poliomielite bulbar
e das outras moléstias que provocavam perturbações respiratórias
e de deglutição.
Conforme constou no relatório de 1969, enviado ao Departamento de Cirurgia
e à Superintendência do Hospital, naquele ano todos os casos foram
atendidos por 14 médicos contratados para formar o maior número de
equipes especializadas jamais reunidas em qualquer dos hospitais da
América do Sul e que cuidaram do ensino de 15 estagiários, alguns
deles bolsistas e outros voluntários. Desde o início de suas atividades
o Serviço cuidou do preparo de 134 estagiários, muitos dos quais foram
prestar bons serviços especializados em outros centros médicos.
Para o renome alcançado pelo Serviço certamente muito contribuíram
as grandes estatísticas nele reunidas. Já nos referimos aos casos
de câncer de laringe e bastaria mencionar o que foi feito no atendimento
de casos de estenoses e atresias provocadas por ingestão de corrosivos
e com aqueles de corpos estranhos das vias aéreas e digestivas.
O Serviço projetou-se até no exterior por ter reunido uma das
maiores e melhores estatísticas com os casos de estenoses e atresias
mais graves foram tratados cirurgicamente com auxílio de cirurgiões
plásticos e cirurgiões gastroenterologistas.
Muitos casos
foram tratados com inteiro sucesso por duas equipes operando simultaneamente:
enquanto a equipe de gastroenterologistas preparava e trazia até ao
pescoço um segmento de colon, a equipe constituída pelos endoscopistas
preparava e executava a substituição de parte da segmento faringoesofágico
comprometido.
O tratamento da fase aguda do envenenamento não dispensava internação
e o tratamento preventivo de estenoses era sempre delicado e demorado,
necessitando o trabalho de médicos especializados e a colaboração
do serviço social e de um médico psiquiatra.
O Serviço do H.C. detinha também a maior estatística nacional
de atendimento de casos de corpo estranhos das vias aéreas e digestivas.
Barretto, em 1944 já havia publicado a maior estatística nacional,
mostrando como tinha resolvido satisfatoriamente 98% dos 600 casos consecutivos
por ele tratados, incluindo mesmo aqueles que lhe foram enviados de
regiões muito distantes. E 31 anos depois, dois assistentes seus mostraram
como tinha sido possível num hospital escola manter e ainda melhorar
aquela eficiência. De um total de 4.572 casos observados no Serviço
do H.C. no período de 1962 a 1971, estudaram 470 casos, justamente
os mais graves, observados em crianças e verificaram somente uma não
foi curada porque faleceu antes da remoção do corpo estranho.
O grande número de casos do papilomas da laringe e da traquéia observados
no Serviço do H.C. e na clínica particular do seu diretor,lhe valeram
o convite para apresentar sua experiência como relator do tema oficial
do VI Congresso Internacional de ORL realizado em Washington, em 1957.
Título honoríficos vindos das mais renomadas associações de otorrinos,
de cirurgiões de cabeça e pescoço e de broncoesofagologia constituíram
as primeiras compensações daquele que teve de abandonar sua
carreira universitária suspensa em 1968 e as atividades no Hospital
das Clínicas interrompidas em Setembro de 1970.
Não sendo possível prolongar este relatório aos nossos leitores recomendamos
a leitura da monografia intitulada “Primórdios da Otorrinolaringologia
e Broncoesofagologia no Brasil. Nossa participação”, publicada pelo
Prof. José Arthur de Carvalho Kós e Plínio de Mattos Barretto
(Lis Gráfica, Rio. 1988).
Nesta publicação encontrarão mais detalhes sobre a origem e desenvolvimento
das especialidades no Brasil bem como a descrição do final das atividades
do fundador do Serviço de Endoscopia Peroral do H.C., que só se encerraram
com sua aposentadoria profissional em 1980. A maior parte da eleição
revisada dos “Primórdios” foi por ele doada à Sociedade Brasileira
de Endoscopia Peroral, bem como a sua biblioteca e seu currículo.
O SERVIÇO
DE ENDOSCOPIA PERORAL DE 1970 A 1995
Ao ser solicitado pelo nosso estimado mestre Plínio de Mattos Barretto
para participar, em co-autoria, com a finalidade de dar continuidade
ao histórico do Serviço de Endoscopia Peroral e levando em consideração
o fato de Ter iniciado minhas atividades na especialidade desde 1969
no próprio Serviço, passo a historiar os principais acontecimentos
no período de 1970 a 1977 baseado no relato textual da monografia já
mencionada:
“Aqueles que deveriam continuar a trabalhar no Serviço de Endoscopia
e que haviam sugerido o pedido de cancelamento da aposentadoria, nada
mais puderam fazer além de protestar contra a nomeação de um substituto
para o cargo de diretor, sem prestação de concurso. Foi então nomeada,
como diretoria interina, Maria Ivonette Dias de Abreu, na ocasião chefe
de clínica e que já trabalhava no Serviço , com grande dedicação
desde 1964.
Em 1972, Robert Thomé e, em 1973, MariaIvonette Dias de Abreu
e Olival Oliveira dos Santos receberam o título de doutores, após
defesa de tese.
Em 1977, a doutora adoeceu gravemente e teve de pedir exoneração do
cargo, antes de poder disputar a livre-docência. Foi substituída por
Shinichi Ishioka, cirurgião gastroenterologista, interessado em Endoscopia
desde 1969.
Em 1980, dez anos depois que o fundador do Serviço de endoscopia do
Hospital das Clínicas fora de lá afastado, foi solicitado a voltar
para integrar com seu ex-discípulo, o Professor Jorge Barretto Prado,
a Banca Examinadora das Provas de Seleção Interna para preenchimento
da função de Diretor Técnico do Serviço de Endoscopia Gastrointestinal
e Broncoscopia. Apesar da troca do nome, os examinadores ainda foram
encontrar o mesmo Serviço de endoscopia Gastrointestional e Broncoscopia.
Apesar da troca do nome, os examinadores ainda foram encontrar o mesmo
Serviço, que ambos tinham ajudado a criar e se desenvolver, até chegar
a ser o maior de todos os Serviço, que ambos tinham ajudado a criar
e se desenvolver, até chegar a ser o maior de todos os Serviços de
Endoscopia da América do Sul. Venceu Shinichi Ishioka, que vinha concorrendo
com eficiência para maior desenvolvimento do setor de gastroenterologia,
dando prosseguimento ao que fora iniciado, em 1969, por Akira Nakadaira,
no Serviço de Endoscopia Peroral do Hospital das Clínicas.”
É de justiça lembrar do esforço feito pela Dra. Maria Ivonette Dias
de Abreu, em 1976, no sentido de evitar a aprovação de uma proposta
de remanejamento no Serviço Endoscopia com a separação dele em três
setores: ORL (Laringe), Gastroenterologia (Esôfago, Estômago e Duodeno)
e Pneumologia (Traquéia e Brônquios), ficando cada um destes setores
entregues aos respectivos Departamento ou Clínicas, o que seria realmente
a fragmentação total do Serviço.
O advento da fibroscopia por volta de 1969 e sua rápida evolução
tecnológica, já promovia grandes mudanças no campo da gastroenterologia
e da endoscopia do aparelho digestivo, quando Shinichi Ishioka em 1971,
que iniciara seus primeiros passos sob orientação de Akira Nakadaira
e Joaquim José Gama Rodrigues no Serviço de Endoscopia Peroral, trouxe
todas as inovações do momento após estágio de 5 meses no Japão.
Nesta ocasião havia solicitado ao Ministério Das Relações Exteriores
do Governo do Japão, um conjunto básico de fibroscópios para uso
em vias digestivas altas, para completar o instrumental já existente
no Hospital das Clínicas e para que pudesse desenvolver e divulgar
o que havia assimilado. Tal pedido foi aceito plenamente e os referidos
equipamentos chegaram em São Paulo no ano seguinte.
A partir da aquisição deste restrito, porém, privilegiado arsenal
de fibroscópios , integrado plenamente com o setor de broncoesofagologia
do mesmo Serviço, desenvolveu-se intensa e profícua atividade acadêmica
e assistencial. Com finalidade de começar a difundir sua experiência
adquirida, em 1973, foi realizado o I Curso Intensivo de Diagnóstico
do Câncer Gástrico Precoce, sob supervisão do Departamento de Cirurgia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, contando com
demonstrações ao vivo de métodos diagnósticos na áreas de radiologia
(Prof. M. Okada), endoscopia (Prof. T. Hayoshi), anatomia-patológica
(Prof. I. Sakurai) e de tratamento cirúrgico(Prof. K. Takezoe) pois,
os japoneses eram os que maior experiência possuíam sobre o tema.
A realização deste curso nos anos subsequentes com do mesmos professores,
até 1980 foram fundamentais para que se divulgasse e fosse paulatinamente
implantado em nosso meio os princípios fundamentais do Diagnóstico
e do tratamento cirúrgico do câncer gástrico precoce.
A broncoesofagologia entretanto,não teve o mesmo impluso na ocasião,
pois o método fibroscópio ainda não tinha tantos adeptos e facilidades,
mas por volta de 1976 o Serviço de Endoscopia já contava com
um broncofibroscópio. Nesta época, com o intuito de contribuir com
as inovações nesta área, através da interferência de Shinichi Ishioka,
Orly Pedrozo foi enviado ao Japão para um estágio de especialização
no National Câncer de Tóquio (Serviço do Prof. Shigueto Ikeda).
Em 1978, conforme determinação da Superintend6encia do Hospital das
Clínicas, a doutora Maria Ivonette Dias de Abreu foi sucedida por Shinichi
Oshioka e desde então, até sua efetivação por concurso interno em
1980, tem sido constante e exaustivo o seu esforço para manter o alto
padrão do Serviço, condizente com o conceito de que o Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo desfruta
no cenário nacional e internacional. Ainda neste mesmo ano, com a conclusão
do novo edifício o prédio dos Ambulatórios, ao lado do atual Instituto
Central, o Serviço de Endoscopia foi transferido de tradicional ala
central do 9º andar do Hospital das Clínicas (junto ao Centro Cirúrgico)
para o 6º andar do novo prédio, onde atualmente ocupa área física
maior. Esta mudança foi necessária e justificada pelo aumento da demanda
no atendimento e pelo fato de que a maioria dos procedimentos passaram
a ser de caráter ambulatorial, embora outros de cunho terapêutico
e muitos sob anestesia geral são realizados normalmente.
No biênio 1978 ~ 1980, a denominação Serviço de Endoscopia Peroral
instituído pelo próprio fundador foi substituída por Serviço de
endoscopia Gastrointestinal e Broncoesofagoscopia em virtude do Regulamento
do Hospital das Clínicas atualizado em Julho de 1978. Entretanto, o
reconhecimento e a homenagem ao Dr. Plínio de Mattos Barretto, insigne
pioneiro e criador do nosso Serviço foi mantido, preservando-se as
antigas placas de bronze com inscrições “Sala Chevalier Jackson”
e “Aos inesquecíveis mestres Chevalier Jackson e Chevalier L. Jackson
homenagem dos seus discípulos e continuadores da escola de Philadelphia”.
As mesmas estão afixadas no portal da sala principal onde se realizam
diariamente os procedimentos broncoesofagoscópicos e que por sua vez
representam uma homenagem prestada pelo nosso fundador ao seu mestre
quando o Serviço de Endoscopia do Hospital das Clínicas completou
25 anos.
Ainda como consequência da transferência do Serviço para o outro
edifício e também de acordo com o Regulamento do Hospital da Clínicas,
o atendimento das emergências endoscópicas foi passado para uma unidade
própria, junto ao Serviço de Pronto Socorro do Hospital das Clínicas,
no 4º andar do prédio principal. Neste importante setor, além das
atividades tradicionais de atendimento aos casos de corpos estranhos
de vias aero-digestivas, de ingestão de corrosivos e de traumas, o
atendimento das hemorragias digestivas também se tornaram proeminentes
com os novos recursos da endoscopia fibro-óptica. A proximidade de
sua localização com outros setores do Pronto Socorro, tem permitido
melhor integração com as respectivas equipes, suscitando discussões
e sugestões construtivas e ainda oportunidades para produção de trabalhos
científicos em conjunto.
Esta nova fase da endoscopia caracterizou-se por enormes avanços
no campo dos métodos diagnósticos e terapêuticos, tendo como respaldo
os aperfeiçoamentos e inovações cada vez maiores dos equipamentos
endoscópicos. Fato este que, passou a constituir outra preocupação
do Serviço para que pudesse manter em dia com tais progressos e para
tanto tem destacado elementos interessados do corpo clínico para cursos
e treinamentos em centros do exterior com freqüência, assim como aquisição
destes equipamentos que se tornam a cada dia mais complexos e sofisticados.
Todavia, ressaltadas as enormes difilcudades para que estes recursos
sejam conseguidos através do Hospital das Clínicas, pode-se afirmar
com certeza de que se tem acompanhado muito de perto os passos das mencionadas
tecnologias de ponta e que o Serviço ainda continua desfrutando do
alto conceito entre muitos centros nacionais, latino-americanos e outros
países do primeiro mundo. Das várias contribuições que se destacaram
neste período, poder-se-ia mencionar as inovações em diversos procedimentos
endoscópicos como no tratamento do divertículo faringoesofágico,
nas afeções bilio-pancreáticas e nas varizes esôfago-gástricas
em caráter pioneiro em São Paulo, e talvez no país e, mais recentemente
os avanços em relação a ultra-sonografia endoscópica.
A busca pela modernidade, entretanto, não tem desviado a tenção para
com os métodos tradicionais da broncoesofagologia, que ao contrário
tem merecido apoio para que novos recursos endoscópicos pudessem contribuir
para melhorar os atendimentos e seus resultados. Ainda com o mesmo objetivo,
na procura de soluções para afecções aero-digestivas complexas de
muitos pacientes, com permanência crônica nos ambulatórios e enfermarias,
os eficientes contactos inter-disciplinares tem possibilitado a solução
da maioria dos problemas e propiciado conseqüentemente vários trabalhos
para publicações e excelentes teses. Entre o período de transição
do prédio antigo, o atual Instituto Central e o recente Prédio dos
Ambulatórios, dois Institutos se consolidaram efetivamente como unidades
autônomas, quais sejam o do Coração (INCOR) e o da Criança (INCR).
A elevada demanda de pacientes para o atendimento endoscópico nestes
institutos, justificou a formação de seus centros de endoscopias para
a s quais foram designados os seguintes assistentes do Serviço respectivamente,
Manoel Ernesto Peçanha Gonçalves e João Carlos Andreolli, este último
substituído por Shinichi Ishioka desde 1994.
No plano assistencial, no período entre 1978 e 1980 a média mensal
de pacientes atendidos foi e 600, perfazendo a média anual de 9.000,
computando-se todos os tipos de atendimentos do Serviço, inclusive
as emergências. De 1980 para diante, houve significativo
aumento da demanda, atingindo a média mensal e anual de 900 e 15.000
pacientes atendidos, respectivamente. Tal acréscimo na demanda tem
sido justificado pela progressiva deterioração e falência da assistência
médico-hospitalar da rede pública do estado e de todo o pa´s, o que
tem conduzido a enorme sobrecarga para instituições de excelência
como o Hospital das Clínicas.
No campo acadêmico, a preocupação e o desempenho do Serviço tem
sido outra constante e través do seu corpo clínico tem participado
em cursos de graduação com noções básicas e específicas da endoscopia
para alunos de terceiro e quarto anos da Faculdade de Medicina. A nível
de pós-graduação, através da Comissão de Aprimoramento Médico
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e atualmente
pela Comissão de Pós-Graduação Senso Lato da Faculdade de medicina
da Universidade de São Paulo, Estágio de Complementação Especializada
em Endoscopia Peroral tem desempenhado sua finalidade para formação
de especialistas em caráter nacional. Este curso é ministrado em regime
de dedicação exclusiva, com duração de um ano, tendo como pré-requisitos:
dois anos ou mais de Residência Médica , ou Especialização
em áreas afins a endoscopia. Com a mesma finalidade, anualmente duas
vagas são destinadas a médicos latino-americanos previamente selecionados.
Dentro do programa de Extensão Universitária e Cultural da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo, o Curso Básico de Endoscopia
Peroral e o de Atualização em Endoscopia Peroral foram realizados
anualmente até 1982. Outros cursos de grande envergadura com
repercussão nacional e internacional como o de Diagnóstico do Câncer
Gástrico precoce foram realizados em 1973, 1975, 1977 e 1980, sendo
interrompidos em conseqüências dos altos custos para sua organização
e dificuldades crescentes enfrentadas pelas entidades promotoras. Estas
atividades foram retomadas a partir de 1989 com o I Curso Internacional
de Endoscopia Terapêutica e desta vez com a participação de
renomados especialistas da França, Bélgica, Alemanha, Japão e Estados
Unidos; contando com recursos áudio-visuais modernos para transmissão
ao vivo das demonstrações endoscópicas realizadas na unidade de endoscopia
do Instituto do Coração para uma platéia de 300 a 500 participantes,
acomodados no Centro Cultural Rebouças (Prédio dos Ambulatórios do
Hospital das Clínicas). Este curso com grande repercussão nacional
e internacional foi realizado subseqüentemente nos anos de 1990, 1991,
1993, sendoque o mais recente, V Curso foi efetuado no mês de julho
de 1994, em conjunto com o tradicional “Gastrão” promovido pelo
Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina de São Paulo.
Ainda dentro da atividade multidisciplinar, os membros do corpo clínico
têm participado das reuniões científicas e clínicas dos departamentos
e disciplinas afins e também nos programas dos cursos de pós-graduação
para mestrado e doutorado das diversas aéreas. Neste último período,
entre os membros do próprio corpo clínico, três obtiveram grau de
mestrado (Shinichi Ishioka, Paulo Sakai e Eduardo Guimarães Hourneaux
de Moura), três defenderam suas teses de doutorado (Shinichi Ishioka,
Paulo Sakai e João Carlos Andreotti), um conquistou título de livre-docente
(Paulo Sakai) e no momento existem três médicos com teses de doutorado
em curso.
Atualmente, contando com elementos do corpo clínico, cuja formação
acadêmica e científica está mais consolidada, vários projetos de
pesquisa clínico-endoscópica, de caráter prospectivo e outros retrospectivo
estão em andamento e alguns destes fazem parte da elaboração de teses
para mestrado e doutorado. Dois projetos atuais estão sendo desenvolvidos
em convênio com a Universidade de Pittsburg.
Na produção científica, tem sido proeminente a participação do
Serviço com apresentação de muitos trabalhos em congressos médicos
e outros eventos nacionais e internacionais da especialidade, além
de atividades em mesas coordenadoras e diretoras. As publicações de
artigos importantes em revistas nacionais foram de 43 e nas internacionais
de 21 além das participações em capítulos de vários livros editados
por outros autores conceituados. Dos trabalhos que foram apresentados
em eventos já mencionados, sete foram contemplados com prêmios
em concursos.
Para o aprimoramento dos médicos-assistentes do Serviço, com o intuito
de se manter sempre atualizado, vários intercâmbios com alguns centros
de excelência no exterior foram conseguidos e para onde os interessados
são recomendados em cursos de treinamento. Neste programa de
intercâmbio, cinco dos Médicos-Assistentes já estiveram no Japão,
cinco no Chile, três na França, um na Alemanha e um na Bélgica. Outros
contactos e atividades associativas com entidades do exterior e a participação
em funções diretivas ou colaborações com a Sociedade Brasileira
de Endoscopia Digestiva (SODEB) também tem sido marcantes e profícuas.
O inter-relacionamento com os Departamentos e Disciplinas da faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo continuaram sendo outra importante
preocupação do Serviço, afim de que o caráter multidisciplinar fosse
preservado, contando sempre com o apoio e compreensão em todos os aspectos.
O antigo sonho do iniciador deste Serviço em transformá-lo algum dia
em Disciplina de Endoscopia Peroral, apesar de ter conseguido sua aprovação
formal em 1965 e não ter sido concretizado, ainda não se desvaneceu
e no decorrer de todo o período após seu afastamento, intenções
e oportunidades surgiram através de vinculações a outros Departamentos.
No entanto, considerado o amplo leque de cunho multidisciplinar da atividade
endoscópica, não se defrontou ainda a desejada situação ideal ou
adequada para se constituir uma entidade única e autônoma com plena
abertura e até contando sua unidade física centralizada e completamente
dotada, incluindo-se os mais variados e sofisticados equipamentos.
Ao encerrar
este histórico relativo ao cinquentário do Hospital das Clínicas,
não se poderia deixar de registrar a valiosa participação dos integrantes
do corpo para-médico, que ao longo dos anos tem se empenhado para com
os cuidados na assistência dedicada aos doentes, ao apoio dos médicos
e na manutenção de todo o arsenal endoscópico. Merecem ainda menção
especial, todos os médicos do Serviço que desde o início até este
momento, de uma forma ou de outra, bastante contribuíram para que o
Serviço de Endoscopia Peroral ou o atual Serviço de Endoscopia Gastrointestinal
e Broncoesofagoscopia do Hospital das Clínicas do Hospital da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo se mantivesse e como se mantém
no pleno desempenho de sua função e pela preservação do sue alto
conceito no contexto da comunidade médica e do país, procurando corresponder
também ao alto prestígio de que desfruta o Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Médicos-Endoscopistas
do Serviço:
A)
Em atividade:
Diretores:
Shinichi Ishioka (Diretor)
Paulo Sakai (Supervisor da Equipe Médica I)
Wilson Leite Pedreira Junior (Supervisor da Equipe Médica II)
Assistentes:
Arnaldo Gonçalves
Scabbia, Beatriz Monica Sugai, Dalton Marques Chaves, Eduardo Guimarães
Hourneaux de Moura, Eunice Komo Chiba, Fauze Maluf Filho, Hélio Batista,
Jeane Martins Melo, José Robledo Naves, Koshiti Hondo, Marcos Hypolito
Cardoso Visconti, Renato Baracat, Sebastião Alves D’Antonio, Sidney
Ferrari, Sônia Nádia Fylyk, Toshiro Tomishigue.
B) Afastamentos
por aposentadoria:
Ismar Fontão
Carril, Olival Oliveira dos Santos, Pedro Augusto Martins, Plínio Freire
de Mattos Barretto (Fundador), Reinero de Souza Carvalho filho, Walter
Antonio Marchi.
C) Afastamentos
por motivos justificados:
Armando Ribeiro
Marques, Arthur Adolpho Parada, Assad Aun Neto, João Carlos Andreolli,
Jorge Barretto Prado (in memorian), José Antonio Pinto, Manoel
Ernesto Peçanha Gonçalves, Manoel Ferraz de faria (in memorian), Maria
Ivonette Dias de Abreu (in memorian), Milton Arie Portenoy, Mineo Abe,
Orly Pedrozo, Robert Thomé, Sidney Pelizon, William Roberto Gomes.